Lenda Urbana: A Matinta Perera da Pedreira
-Firifififiuuu...!
Na década de 30, parte do
Bairro da Pedreira ainda era só mato e pântanos.cenário este provocado
pela região de baixa daquela área. Quem ali morava ou passava noite
ouvia o incofundivel assobio da Matinta Perera...
-Firifififiuuu...!
Os moradores perguntavam entre si o que desejaria a Matinta pelas redondezas.
Os moradores perguntavam entre si o que desejaria a Matinta pelas redondezas.
-Será que ela quer tabaco?
-De mim não leva nada! Se chatear muito, dou-lhe um tiro disse seu Juca
-Não se deve desejar mal a ela. Já basta sua sina. Matinta é alma penada.... disse dona Júlia
-Pois que vá cumprir suas penas mais adiante e não venha perturba com seus assobios...!disse novamente seu juca.
A
Matinta Perera continuava suas rondas noturnas, segundo alguns, apenas
para ganhar tabaco , segundo outros cumprindo o seu destino de alma
penada...
-Firifififiuuuu....!
Guapindai Assu de Marões morava nas imediações e conta o que se passou consigo mesmo e uma certa visinha, a velha Mariana.
Quem morasse nas ruas Travessa Marquês de Herval, Curuzu, Antônio Baeno, Visconde de Inhaúma conhecia a velha Mariana.
Velha
Mariana era alta, cor branca, cabelos compridos, totalmente branco,
nariz adunco como bico de ave de rapina; andava em passos curtos,
curvada para frente, falava baixo e não olhava as pessoas de frente;
jamais falou sobre sua procedência e parecia não gostar de relembrar
seus tempos de riquezas.
Era conhecida como "Benzadeira" de qualquer doença.
Sua
casinha possuía apenas dois compartimentos: Sala e quarto; era coberta
de palha de ubuçu, paredes embarreadas e chão socado. Na sala
localizava-se a "Congá"( espécie de altar) com diversas imagens
misturadas com adornos esquisito, tais como rosário de pontas pretas e
vermelhas, potes, panelas e alguns alguidares de barro hermeticamente
fechado com toalha colorida nem sempre limpas e ossos que nunca soube se
era humanos ou de animais além de velas de cores diversas.
Velha
Mariana só e passava os dias trancadas em casa, cozinhando sempre
alguma coisa que nunca se sabia o que era e acondicionando-a nos
recipientes. Quando, indiscretamente, olhavam pelo buraco da fechadura,
viam-na dançando e cantando toadas que não eram bem entendidas...
As noites do perímetro continuavam sendo visitadas pela Matinta Perera.
-Firifififififiuuuuu...!
-Arre!Mas será que ela não vai nos deixar em paz?
D.Jacinta,
mãe de Guapindaia, gostava de velha Mariana, a quem respeitava;
mandava-lhe sempre alguma coisa para comer, e velha Mariana retribuía a
esta atenções com uma afeição especial pela sua familia, particulamente
pela própria D.Jacinta e por Guapindaia, que era o portado dos quitutes.
E uma vez a benzedeira disse ao rapaz:
-Olhe, Guapindaia, você não deve andar por aí altas horas da noite!
-Ora,
D.Mariana, nada pode me acontecer. Dizem que tem Matinta Perera, que
aliás é o que mais ouço, mas ela não me preocupa e acho que nem eu a
ela.
-Muito bem, muito bem! Matinta Perera não faz mal a ninguém e muito menos a você, pois ela é sua amiga.
Após
o diálogo, Guapindaia ficou a pensar:-Como é que velha Mariana sabia
que andava altas horas da noite? Por outro lado, muitas vezes acontecia
de percorrer o itinerário da Marquês de Herval, regressando de farras, e
neste momentos ouvia o inconfundível assobio da Matinta Perera
-Firififiififiuuu...!
E este assobio terminava lá para os lados da esquina com Antônio Baena, justo onde ficava a casa da velha Mariana...
Guapindaia,
depois de muito meditar, chegou à terrível conclusão: a Matinta Perera e
a Velha Mariana eram um mesmo ser. A certeza absoluta ele veio ter
alguns dias mais tarde.
Os quintais das casas da
Marquês de Herval, da Curuzu, e da Antônio Baena confirnavam-se, sem que
houvesse cercados separando-os. D.Jacinta mandou Guapindaia dormir no
quarto dos fundos da casa e deu-lhe a chave, a fim de não ter de
levantar para abrir a porta, quando ele chegasse tarde da noite. Assim,
quando regressava, entrava por um terreno baldio que havia na Curuzu e
que terminava no terreno da sua casa, que , por coincidência, também
confinava com o quintal da Velha Mariana.
E, certa
noite... Guipindaia ainda guarda na memória o ocorrido... quando
atravessou a encruzilhada que delimitava os quintais, ouviu o assobio da
Matinta Perera, que vinha do lado da esquina Chaco com a Marquês de
Herval.
-Firifififiuuu....!
E o assobio veio aumentando de intensidade.
-Firifififififiuuuu...!
Aumentou...aumentou...aumentou... até torna-se forte e estridente.
-Firifiifififiuuu...!
Guapindaia
ficou paralisado. E sentiu por sobre sua cabeça o farfalhar de asas,
tal como um pequeno tufão, movimentando as folhas das árvores próximo
pelo deslocamento de ar provocado.
Guapindaia, pregado ao solo como se raízes tivesse criado, viu um estranho pássaro tomar o rumo do quintal da velha Mariana...
Pouco
depois, as luzes da casa da benzedeira acenderam-se, e surge velha
Mariana, penteando-se e olhando tristemente para a lua, cuja luz
espraiava-se pelo velho Bairro da Pedreira...
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